quinta-feira, abril 22, 2010

TEMPOS DE BOA MÚSICA E DIFÍCEIS DE SEREM CONSEGUIDAS




Quem teve a felicidade de viver nos anos setenta com certeza vai saber do que estou falando. Ainda mais se morou no interior do Brasil, longe dos grandes centros. Estou me referindo a dificuldade em conseguir alguma música depois que ela saísse das paradas de sucesso da época. Não era coisa fácil, quem não tinha comprado o vinil ou, em menor escala, o casssete quando ainda estava fazendo sucesso e tocando nas rádios, um abraço. Só com muita sorte, ou então roubando o dito cujo nos bailinhos particulares, muito comum naquele tempo. Sim, naquela época só existia o vinil (em três formatos: Long-Play, Compacto Simples e Compacto Duplo) e o cassete. Nada de mídia digital, MP3, Ipod e outras coisinhas maravilhosas de hoje. Isso era algo que ninguém, nem de longe, sequer imaginava que um dia pudesse vir a existir. Ou a gente andava com aquele monte de bolachões debaixo do braço ou levava discretamente umas fitinhas no bolso. Claro que existia os famosos gravadores de rolo, mais isso era uma coisa praticamente inacessível aos pobres mortais comuns.
Mas quando você ouvia alguma canção de dois, três ou mais anos atrás, e ficava maluco para ter aquele som em casa, aí era um desespero só. Quanto mais velha, mais difícil. As malditas gravadoras tiravam a maior parte dos discos do catálogo quando o sucesso acabava, só mantendo os grandes nomes, como Beatles, Pink Floyd, Elvis. Até os Rolling Stones era difícil de achar. Não tinha a quem recorrer. Lojas de usados, só em grandes centros. Mesmo assim, eram poucas, e com escassas opções. Instituições como o MercadoLivre, onde hoje em dia se pode conseguir praticamente qualquer coisa em matéria de som, não existia nem nos melhores sonhos ou piores pesadelos de quem quer que fosse.
Quando a gente enfim conseguia um disco considerado antigo e raro, era um delírio só. Tinha até medo de botar o bicho para rodar, com receio que estragasse. Emprestar então, era um pesadelo. Perdia o amigo mas conservava o disco precioso.
Hoje em dia é tudo muito fácil, extremamente fácil e acho que isso acabou tirando aquele valor especial que a música tinha. Hoje você ouve, gosta por uns tempos e esquece. Sabe que se um dia quiser ouvir novamente, basta digitar o nome da música no Google ou assemelhados. Tem dezenas de lugares para você pode ouvir, ver o vídeo... Tudo que é muito acessível perde um pouco a graça. E, de certa forma, o valor. Naquele tempo se você quisesse alguma música, tinha comprar mesmo!
Hoje ainda me lembro da grande euforia e enorme felicidade que tive quando, de passagem por uma pequena loja de discos um pouco fora do centro de Goiânia, consegui adquirir esses três LP's, ali por volta de 1976: "Disco de Ouro Difusora", "Golden Hits" (do selo Fontana) e o "Acceleration", do grupo "Middle Of The Road". Todos eles continham várias músicas pelas quais eu era doido para ter. Foi o mês inteiro de constantes audições, não conseguia ouvir outra coisa. Tinha ali músicas que sempre procurei, mas nunca tinha encontrado. Em um deles, O Disco de Ouro Difusora, tinha uma música que nem original era, mas na época eu nem percebi a diferença, nem no som, e muito menos na sutil diferneça dos nomes dos intérpretes: O original era "The Cowsills" e o do disco era "The Cownsils". Só fui perceber essas diferenças recentemente.
Tempos difíceis aqueles. A ditadura comendo solta, mas isso é outro caso.
Mas era um tempo de boa música, uma grande parte se tornou inesquecível e ainda hoje é tocada por toda parte. Não estou falando que a música de hoje seja ruim, muito pelo contrário. Mas a música dos anos sessenta e setenta era, por assim dizer, um tanto quanto especial. Basta ver o número de regravações e execuções dessas músicas hoje em dia para se certificar disso. A grande quantidade de artistas e bandas que atualmente bebem, e com muita sede, nessas duas fontes.

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